segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

“Sfot Poc”, por Luiz Fernando Veríssimo

Chamava-se Odacir e desde pequeno, desde que começara a falar, demonstrara uma estranha peculiaridade. Odacir falava como se escreve. Sua primeira palavra não foi apenas “Gugu”. Foi:
— Gu, hífen, gu.
Os pais se entreolharam, atônitos. O menino era um fenômeno. O pediatra não pôde explicar o que era aquilo. Apenas levantou uma dúvida.
           — Não tenho certeza que “gugu” se escreve com hífen. Acho que é uma palavra só, como todas as expressões desse tipo. “Dadá” etc.
           — Da, hífen, dá – disse o bebê, como que para liquidar com todas as dúvidas.
Um dia, a mão veio correndo. Ouvira, do berço, o Odacir chamando:
— Mama sfot poc.
E, quando ela chegou perto:
— Mama sfotoim poc.
Só depois de muito tempo os pais se deram conta. “Sfot Poc” era ponto de exclamação e “sfotoim poc”, ponto de interrogação.
Na escola, tentaram corrigir o menino.
— Odacir!
— Presente sfot poc.
— Vá para a sala da diretora!
— Mas o que foi que eu fiz sfotoim poc.
Com o tempo e as leituras, Odacir foi enriquecendo seu repertório de sons. Quando citava um trecho literário, começava e terminava a citaçao com “spt, spt”. Eram as aspas. Aliás, não dizia nada sem antes prefaciar um “zit”. Era o travessão. Foi para a sua primeira namorada que ele disse certa vez, maravilhado com a própria descoberta:
— Zit Marilda plic (vírgula) você já se deu conta que a gente sempre fala diálogo sfotoim poc.
— O quê?
— Zit nós sfot poc. Tudo que a gente diz é diálogo sfot poc.
— Olhe, Odacir. Você tem que parar de falar desse jeito. Eu gosto de você, mas o pessoal fala que você é meio biruta.
— Zit spt spt biruta spt spt sfotoim poc.
— Viu só? Você não pára de fazer esses ruídos. E ainda por cima, quando diz “sfotoim”, cospe no meu olho.
O namoro acabou. Odacir aceitou o fato filosoficamente, aproveitando para citar o poeta.
— Zit spt spt. Que seja eterno enquanto dure poc poc poc spt spt. Poc poc poc eram as reticências. Odacir era fascinado por palavras. Tornou-se o orador da turma e até hoje o seu discurso de formatura (em Letras) é lembrado na faculdade. Como os colegas conheciam os hábitos de Odacir, mas os pais e os convidados não, cada novo som do Odacir era interpretado, aos cochichos, na platéia:
— Zit meus senhores e minhas senhoras poc poc.
— Poc, poc?
— Dois-pontos.
— Que rapaz estranho…
— A senhora ainda não viu nada…
Quando lia um texto mais extenso, Odacir acompanhava a leitura com o corpo. As pessoas viam, literalmente, o Odacir mudar de parágrafo.
— Mas ele parece que está diminuindo de tamanho!
— Não, não. É que a cada novo parágrafo ele se abaixa um pouco.
Quando chegava ao fim de uma folha, Odacir estava quase no chão. Levantava-se para começar a ler a folha seguinte.
— Colegas sfot poc Mestres sfot poc Pais sfot poc. No limiar de uma era de grandes transformações sociais plic o que nós plic formandos em Letras plic podemos oferecer ao mundo sfotoim poc.
A grande realização de Odacir foi o trema. Para interpretar o trema, Odacir não queria usar poc, poc, que podia ser confundido com dois pontos. Poc plic era ponto e vírgula. Um spt só era apóstrofe. Como seria trema? Odacir inventou um estalo de língua, algo como tlc, tlc. Difícil de fazer e até perigoso. Ainda bem que tinha poucas oportunidades de usar o trema.
Odacir, apesar de formado em Letras, acabou indo trabalhar no escritório de contabilidade do pai. Levava uma vida normal. Lia muito e sua conversa era entrecortada de spt, spts, citações dos seus autores favoritos. Mesmo assim casou-se – na cerimônia, quando Odacir disse “Aceito sfot poc”, o padre foi visto discretamente enxugando um olho – e teve um filho. E qual não foi o seu horror ao ouvir o primeiro som produzido pelo recém-nascido:
— Zzzwwwwuauwwwuauzzz!
— Zit o que é isso sfotoim e sfot poc?
— Parece – disse a mulher, atônita – o som de uma guitarra elétrica.
O filho de Odacir, desde o berço, fazia a própria trilha sonora. Para a tristeza do pai, produzia até efeitos especiais, como câmara de eco. Cresceu sem dizer uma palavra. Até hoje anda por dentro de casa reverberando como um sintetizador eletrônico. É normal e feliz, mas o único som mais ou menos inteligível – pelo menos para seus pais – que faz é “tump tump”, imitando o contrabaixo elétrico.
— Zit meu filho poc poc poc. Meu próprio filho poc poc poc. – diz Odacir.
Poc, poc, poc.

Disponível em: < http://humbertocapellari.wordpress.com/2009/11/30/sfot-poc-por-luiz-fernando-verissimo-obs-texto-dele-mesmo/>. Acesso em: 7 fev. 2011.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Mudar para valer... mas como?

É sabido que a Educação tradicional é enfadonha, justamente pela monotonia. Em vários momentos os alunos demonstram desinteresse e apatia diante das aulas de Língua Portuguesa, reivindicam veementemente por aulas mais dinâmicas e atrativas. Isto faz com que o professor comprometido com suas atividades profissionais busque alternativas e novos recursos para a abordagem do conteúdo em sala de aula.

A inserção das novas tecnologias no contexto de sala de aula, por sua vez, pode ser perigosa ou surtir efeito contrário ao esperado.

Os alunos têm de aprender a buscar o conhecimento se utilizando de todos os recursos que os cercam (livros, televisão, internet, jornais, revistas etc.), mas com supervisão e orientação do professor. Deixar os alunos do Ensino Básico livres para "navegar" na internet, por exemplo, pode ocasionar problemas sérios, porque eles tanto podem realizar suas pesquisas com responsabilidade quanto podem se dispersar da atividade proposta, envolvendo-se em redes sociais ou mesmo em sites perigosos e inadequados ao contexto e à sua faixa etária.

Deve-se, portanto, tentar adequar as práticas pedagógicas à evolução da tecnologia, porém é preciso estar ciente dos riscos aos quais os alunos são expostos.  Realizar um planejamento pedagógico sério torna-se indispensável para que certos riscos sejam minimizados e com o intuito de que as atividades atinjam o objetivo almejado.
Lílian Dinelli
Pós-graduanda em Língua Portuguesa
Gustavo Aragão Cardoso
Pós-graduando em Língua Portuguesa

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A Educação no contexto das novas tecnologias

Com o advento de novas tecnologias, surgem nos desafios à Escola. Torna-se imprescindível que as práticas educacionais vislumbrem a utilização dessas novas linguagens a fim de atender a demanda em tempos atuais.

A Escola deve despojar-se das amarras do ensino tradicional, tecnicista, e permitir-se tombar com o novo, por mais estranhamento que cause. É necessário que a equipe pedagógica flexibilize horários e espaços, que disponibilize recursos para o desenvolvimento das atividades mais interativas e dinâmicas.

O espaço escolar deve-se configurar como um lugar de inovações e de experimentos em busca de novos caminhos. É indispensável pensar o processo de ensino e aprendizagem sempre promovendo modificações no tocante às práticas pedagógicas, sem que seja necessário romper absolutamente com métodos antigos, fundados em bases  já superadas; é importante mater o equilíbrio.

As novas gerações de estudantes são dotadas de necessidades e potencialidades próprias de sua época, cabendo a Escola acompanhar esse universo de evoluções e transformações sociais do qual seus alunos são parte integrante.
                                                                                       Gustavo Aragão Cardoso
                                                                         Professor, pós-graduando em Língua Portuguesa
                                                                   Membro do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho/    
                                                                               Academia Sergipana de Letras (ASL)

O que são os TIC's?

Serão tiques nervosos? Movimentos involuntários e compulsivos que evidenciam certa perturbação psicológica ou neurológica? Não. Os TIC's nada mais são que a nova tendência de apropriar-se dos recursos midiáticos e tecnológicos de Informação e Comunicação dentro do contexto escolar, numa tentativa de possibilitar novas abordagens de ensino. Aqui evidenciaremos a utilização desses recursos no ensino de língua materna.

Com o advento de novas tecnologias, surgem novos desafios à Escola. Torna-se imprescindível que as práticas educacionais vislumbrem à utilização dessas novas linguagens a fim de atender a demanda em tempos atuais. Cabe, pois, à Escola acompanhar o universo de evoluções e transformações sociais do qual seus estudantes são parte integrante.